Paragem obrigatória no circuito artístico internacional, o Porto Art District é hoje o quarteirão mais trendy da cidade Invicta.
Há um fervilhar de criatividade que é impossível de ignorar. Aqui juntaram-se várias Galerias de Arte Contemporânea que convivem, lado a lado, com o comércio tradicional, lojas de design, cafés, restaurantes e vários outros projetos independentes. Também a arte urbana tem grande relevância neste Quarteirão, uma vez que foi aqui que os artistas Mesk, Fedor e Mots criaram, em 2013, o primeiro mural legalizado da cidade Invicta - “D. Quixote e Sancho Pança”.
Porto Art District: como tudo começou
A Galeria Fernando Santos que conta já com quase três décadas de existência, foi a primeira a estabelecer-se na Rua Miguel Bombarda. Pouco tempo depois, outras galerias seguiram o seu exemplo. A Galeria Quadrado Azul, um dos primeiros espaços de arte contemporânea da cidade, que na altura procurava “um espaço mais amplo e com melhores condições para acolher exposições”, mudou-se para o quarteirão das artes em 1996.
O galerista Gustavo Carneiro não tem dúvidas de que todo o movimento que posteriormente veio a acontecer naquele Quarteirão surgiu “de forma natural”. Nada foi planeado, reforça o galerista Fernando Santos, recordando que a determinada altura já eram “cerca de 15 as galerias na Rua Miguel Bombarda e todas com uma atividade bastante intensa”, transformando a rua numa “referência para as artes em Portugal”.
Um destino fascinante para artistas e colecionadores
A beleza da Invicta, a sua proximidade com o mar e com o rio Douro, combinada com uma mistura fascinante de pessoas, tradições culturais, arte, gastronomia e custo de vida mais acessível, quando comparado com outras cidades europeias, tornam o Porto uma cidade extremamente apelativa.
A cidade faz parte do circuito dos colecionadores e apreciadores de arte contemporânea há bastante tempo. Contudo, a cena artística internacionalizou-se ainda mais com o Porto Art District e com os seus principais promotores culturais, os galeristas.
Nuno Centeno, que em 2016 foi nomeado pela plataforma digital Artnet como um dos dez galeristas mais conceituados da Europa, e, em 2018, um dos jovens inspiradores do mundo da arte com menos de 40 anos para a Apollo International Art Magazine, não tem dúvidas: “Cada vez mais as portas se abrem para Portugal”, frisando que “somos privilegiados, porque há uma atenção enorme para com o nosso país, para com as cidades do Porto e de Lisboa e para com os nossos artistas. Os estrangeiros que se mudam para Portugal querem conhecer o que se faz de arte em Portugal. Este é o momento da internacionalização”.
Galerias apostam em artistas nacionais e estrangeiros, reconhecidos e emergentes
Para além de um trabalho de paixão, esta é também uma atividade de resiliência, de investimento, de uma pulsão incontrolável, que tanto apresenta obras de reputados artistas nacionais e estrangeiros, como aposta em novos valores, promessas feitas realidade na arte portuguesa.
Gustavo Carneiro, da Quadrado Azul, recorda que quando a galeria abriu ao público “havia muitos artistas acabados de sair das Belas-Artes, mas não existiam galerias de arte para mostrar o seu trabalho”. Por esse motivo, a Quadrado Azul continua também a representar a próxima geração de artistas.
Estar na vanguarda da Arte Contemporânea tem sido também a aposta de Fernando Santos, que na sua galeria tem representado “não só os melhores artistas nacionais, como também grandes nomes da arte internacional”. Tàpies, Julian Schnabel, Nikias Skapinakis, Pedro Cabrita Reis, Ray Smith, Richie Culver, Ana Vidigal são alguns dos muitos nomes que fazem parte do percurso da galeria portuense.
Representar artistas nacionais e estrangeiros, emergentes e estabelecidos, tem sido também uma aposta da Galeria Nuno Centeno que, neste momento, trabalha com mais artistas estrangeiros. A razão apontada por Nuno Centeno é simples: são aqueles que gostaria de ver no país, se fosse ele o espectador.
Artistas contemporâneos com talento reconhecido
Nuno Centeno, que também já foi distinguido por apresentar o melhor stand na Frieze, em Nova Iorque, considera que o trabalho desenvolvido pelos artistas nacionais “é atrativo” e reconhece que “têm sido feitas algumas ações de promoção, com o apoio do Estado, a alguns artistas”. Mas, para o galerista, o mais importante “é o caminho que os artistas e as suas galerias podem ir traçando de uma forma mais autónoma, criando os seus próprios circuitos”, uma vez que as galerias são também empresas com negócios.
Fernando Santos é igualmente categórico ao afirmar que “temos artistas muito bons” e Gustavo Carneiro lembra que a arte portuguesa tem sido bem aceite além fronteiras. Esse é, aliás, o motivo pelo qual refere haver vários artistas nacionais com obra exposta "não só na Europa, mas também nos Estados Unidos da América, ou no Japão”.
Artistas portugueses além fronteiras
Para muitas galerias, participar em feiras tornou-se essencial para promover e divulgar os seus artistas a um público internacional.
Fernando Santos conta já no seu portefólio com 30 anos de feiras internacionais. O galerista afirma que esta presença tem como objetivo “dar visibilidade aos nossos artistas” e, claro está, vender. No entanto, confessa que estes eventos representam “um esforço económico grande”.
Durante 15 anos, Nuno Centeno participou em praticamente todas as feiras internacionais e diz que os resultados “são bons, mas desnivelados. Paga-se o branding da galeria, a visibilidade da marca e uma boa rede de contactos para os artistas associados”.
Atualmente, o galerista considera que “deixou de fazer sentido participar em feiras se os artistas não forem colaborativos, ou pelo menos sensíveis ao investimento da galeria. É que no final do dia é o conteúdo criativo deles que está a ser promovido''. Para o filho do reconhecido artista Sobral Centeno, os melhores resultados em termos de visibilidade e lucro que tem observado “são as colaborações financeiras em que ambos, artista e galeria, participam”.
Gustavo Carneiro, por sua vez, considera que “quando se procura o crescimento, há sempre necessidade de não ficar no mesmo sítio”. Por isso, adianta, “levar os artistas nacionais lá fora acaba por ser uma porta. Muitas vezes o artista tem muita qualidade, mas se não for visto, acaba por passar despercebido”. Esse é o motivo pelo qual o projeto da Quadrado Azul continua a ter como elemento fulcral a participação em feiras, e eventos similares, em países como Espanha, Alemanha, Suíça ou Bélgica.
A relação da galeria com o artista
Como é natural, a relação entre o galerista e o artista não é isenta de tensões. O ato da criação é muito particular, mas o ato de vender ou promover o produto também tem as suas especificidades. Ao interagir com o artista, Gustavo Carneiro tenta “conhecer o trabalho dele, compreender o artista”, pois acredita que “é preciso conhecer o artista para saber como ele pensa”. Depois, é importante perceber “qual é a relação da obra com o artista e as circunstâncias em que a mesma foi construída. Ao compreender essas premissas, vamos gostar mais ou menos de uma determinada obra”, explica.
Quando se trata da seleção de um determinado autor, Gustavo Carneiro lembra que cada artista “acaba por ser um caso particular” e explica que há situações em que é a galeria a convidar o artista e situações em que são os artistas que se propõem. Há também os artistas que são recomendados por um colega, um curador ou uma instituição.
Nuno Centeno, por sua vez, afirma que cada vez mais escolhe os artistas pelo perfil e não pela obra, até porque, salienta, “fazer boas obras de arte qualquer um pode fazer. Plasticamente e conceptualmente é fácil. Mas saber quem é a pessoa, qual a sua história e o que pretende contar é algo maior”. O galerista diz que o seu interesse está “no mindset associado à produção de uma abordagem artística que possa ser interessante para os dias de hoje. Cada artista tem uma história para narrar e a sua história até pode ser a desconstrução de uma história”.
Para Fernando Santos representar um artista pressupõe que haja uma identificação com ele, pois para sugerir uma obra ao coleccionador “temos de acreditar nela”. O galerista, que começou por exercer atividade no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, explica que a relação do artista com a galeria é de “trabalho e de amizade”, e lembra que quando a galeria propõe a compra de uma determinada obra, aquilo que está a propor é, na verdade, um bom investimento.
Inaugurações Simultâneas: uma visita que vale a pena
Se quiser aceitar a sugestão de Fernando Santos e fazer um investimento numa obra de arte, ou se simplesmente desejar juntar-se ao movimento social e cultural que se desenvolveu na Rua das Galerias de Arte, uma excelente altura para o fazer é durante as Inaugurações Simultâneas que decorrem a cada dois meses. Há sempre muita animação de rua, exposições, concertos, workshops e visitas guiadas a acontecer. Não percas a oportunidade de visitar o Porto Art District!